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O Que Diz Molero
Dinis Machado
O que diz Molero tratase de uma obra aclamada da literatura portuguesa, que traça um “percurso estilhaçado e por vezes vertiginoso pelo mundo da linguagem”. A obra gerou a adaptação teatral de mesmo nome, dirigida pelo aclamado Aderbal Freire Filho.
«Teve uma infância estranha», disse Austin. «Em última análise, todas as infâncias o são», disse Mister DeLuxe. «Molero Diz», disse Austin, «que a infância do rapaz foi particularmente estranha, condicionada por questões de ambiente que fizeram dele, simultaneamente, actor e espectador do seu próprio crescimento, lá dentro e um pouco solto, preso ao que o rodeava e desviado, como se um elástico o afastasse do corpo que transportava , muitas vezes, o projectasse brutalmente contra a realidade desse mesmo corpo, e havia então esse cachoar violento do que era e a espuma do que poderia ser, a asa tenra batendo à chuva». (…)
Quando o narrador, um escritor prematuramente frustrado e hipocondríaco, viaja até Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Coxo, portador de uma bengala, e planejando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer Vincenzo Gentile, um escritor italiano mais jovem, mais enérgico, e muito pouco sensato, que o convence a ir da Hungria até Itália, onde um famoso produtor de cinema tem uma casa de província no meio de um bosque, escondida de olhares curiosos, e onde passa a temporada de verão à qual chama, enigmaticamente, de O Bom Inverno. O produtor, Don Metzger, tem duas obsessões: cinema e balões de ar quente. Entre personagens inusitadas, estranhos acontecimentos, e um corpo que o atraiçoa constantemente, o narrador apercebe-se que em casa de Metzger as coisas não são bem o que parecem. Depois de uma noite agitada, aquilo que podia parecer uma comédia transforma-se em tragédia: Metzger é encontrado morto no seu próprio lago. Porém, cada um dos doze presentes tem uma versão diferente dos acontecimentos. Andrés Bosco, um catalão enorme e ameaçador, que constrói os balões de ar quente de Metzger, toma nas suas mãos a tarefa de descobrir o culpado e isola os presentes na casa do bosque. Assustadas, frágeis, e egoístas, as personagens começam a desabar, atraiçoando-se e acusando-se mutuamente, sob a influência do carismático e perigoso Bosco, que desaparece para o interior do bosque, dando início a um cerco. E, um a um, os protagonistas vão ser confrontados com os seus piores medos, num pesadelo assassino que parece só poder terminar quando não sobrar ninguém para contar a história.
A Polaquinha – Dalton Trevisan
A Polaquinha se destaca no seu universo de maldição e misericórdia. É uma história de amor louco e erotismo, escrita com mão de mestre. Este livro é inesquecível, sobretudo se o leitor, como essa pobre moça, está inclinado a crer que nunca se sabe nada de ninguém. Essa obra exprime-se através de uma visão misericordiosa, de genuína compaixão pela aventura humana. A Polaquinha retoma um tema eterno. Há muita perdição na sua culpa. Há culpa e há castigo. A vida é implacável. Inesquecível e único, este romance de Dalton Trevisan passeia por uma Curitiba reinventada, com o objetivo de seguir os passos da Polaquinha, entre vampiros e mártires condenados a se crucificarem na mesma e inútil tentativa de salvação.
O Rastro do Jaguar
Murilo Antônio de Carvalho
Estamos no virar do século XIX em Congonhas do Campo. Pereira, um antigo jornalista de origem portuguesa, revisita as suas memórias, que percorrem todo o conturbado período da segunda metade do século. Através do relato da sua viagem, Pereira, que deixara Paris com o seu grande amigo e companheiro Pierre, leva-nos a conhecer o Brasil em guerra com o vizinho Paraguai, no período mais decisivo da sua história. Uma guerra sangrenta que o Brasil trava ao lado da Argentina e do Uruguai e que, para Pereira e Pierre, será o momento decisivo das suas vidas. É também a guerra pelo espaço vital das populações índias que, humilhadas pela acomodação forçada às regras e vivências dos colonos, tentam recuperar a sua Terra Mítica, onde o Mal não existe. É ainda a guerra travada por Pierre para definir a si mesmo: índio, como o seu povo, ou europeu, tal como foi criado? Levado em criança por Auguste de Saint?Hilaire do Brasil para França, descobre, já adulto, nas feições de dois índios presos, a chave para as suas raízes nunca explicadas. Raízes que vai encontrar nesse cruzamento do rio da Prata, onde brasileiros e paraguaios morrem aos milhares e os índios guarani lutam por uma terra onde possam de novo viver livres e em paz. Da França à Argentina, do Brasil ao Paraguai, do sertão nordestino aos planaltos do Sul do Brasil, Pereira relata-nos de uma forma empolgante e quase cinematográfica as grandes transformações que definiram a América do Sul. Pelo caminho, encontra o amor perfeito e Pierre a pátria a que junto dos seus pode chamar sua. Baseado em fatos verídicos e personagens reais, O Rastro do Jaguar é uma imagem dos intensos choques culturais e sociais que marcaram o século XIX e a relação dos europeus com as suas antigas colônias agora independentes.
Bichos
Miguel Torga
A partir desta pequena arca de Noé, cheia de bichos e gente, Miguel Torga criou um novo mundo de contos que, aos nossos olhos de leitores fascinados, passa a limpo o discurso do dia a dia, sublinhando suas injustiças e corrigindo o viés do nosso olhar. Com este mundo inventado aprendemos a ver melhor o mundo que criaram para nós.
Bichos, de 1940, é o seu primeiro livro de contos, que já está chegando à vigésima edição, todas revistas, modificadas e acrescidas. Até o último momento da sua vida de escritor, ele recriava os seus livros, não importando se fosse a segunda ou a trigésima edição, sempre em busca do mistério surpreendente da criação poética.
1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil
Laurentino Gomes
O propósito deste livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar a história da corte lusitana no Brasil e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás. ’1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil’ é o relato sobre um dos principais momentos históricos brasileiros.
O Vale da Paixão
Lídia Jorge
A ação se reporta há cerca de cinquenta anos do século passado, invocados através da voz de uma narradora que nunca nomeia a si mesma.
Durante uma noite, depois de ter recebido uma manta de soldado, relíquia de Walter Dias, seu pai, clama pela sua figura, reconstitui a sua vida de trotamundos, reabilitando a sua imagem e transformando-o de banido em herói, através de um discurso poético dramatizado. Custódio Dias, o tio coxo que lhe serviu de pai, Francisco Dias, o avô, ou a mãe, Maria Ema, entre outros, compõem um romance de família. A figura de Walter Dias tem sido apontada como uma personagem fortemente representativa da diáspora portuguesa e europeia do século XX. Sobre este livro, a autora costuma referir o título original, “Diante da Manta do Soldado”, como aquele que melhor teria traduzido a atmosfera da narrativa.
A Trança de Inês
Rosa Lobato de Faria
Baseado no mito de Pedro e Inês (mais na lenda do que na História), um romance sobre a intemporalidade da paixão, onde se abordam também alguns mistérios da existência. Assim as mulheres passam umas às outras a sua teia ancestral de seduções, subentendidos, receitas que hão-de prender os homens pela gula, a luxúria, a preguiça e todos os pecados capitais, é por isso que elas nunca querem os santos, os que não se deixam tentar, os que resistem à mesa, à indolência, à cama, à feitiçaria dos temperos, ao sortilégio das carícias, à bruxaria das intrigas.
Enquanto Salazar Dormia…
Domingos Amaral
Lisboa, 1941. Um oásis de tranquilidade numa Europa fustigada pelos horrores da II Guerra Mundial. Os refugiados chegam aos milhares e Lisboa enche-se de milionários e actrizes, judeus e espiões. Portugal torna-se palco de uma guerra secreta que Salazar permite, mas vigia à distância.
Jack Gil Mascarenhas, um espião luso-britânico, tem por missão desmantelar as redes de espionagem nazis que actuavam por todo o país, do Estoril ao cabo de São Vicente, de Alfama à Ericeira. Estas são as suas memórias, contadas 50 anos mais tarde. Recorda os tempos que viveu numa Lisboa cheia de sol, de luz, de sombras e de amores. Jack Gil relembra as mulheres que amou; o sumptuoso ambiente que se vivia no Hotel Aviz, onde espiões se cruzavam com embaixadores e reis; os sinistros membros da polícia política de Salazar ou mesmo os taxistas da cidade. Um mundo secreto e oculto, onde as coisas aconteciam “enquanto Salazar dormia”, como dizia ironicamente Michael, o grande amigo de Jack, também ele um espião do MI6. Num país dividido, os homens tornam-se mais duros e as mulheres mais disponíveis. Fervem intrigas e boatos, numa guerra suja e sofisticada, que transforma Portugal e os que aqui viveram nos anos 40.
Café República – Folhetim do mundo vivido em Vila Velha
Álvaro Guerra
Café República compõe um fresco sobre a vida portuguesa do período das duas Guerras abarcando os mais importantes acontecimentos nacionais e mundiais de 1914 a 1945. Juntamente com Café Central e Café 25 de Abril faz parte da conhecida Trilogia dos Cafés, considerada muito justamente uma das obras emblemáticas do Autor. Café República, primeira parte da Trilogia, desenrola-se no período que vai desde 1914 até ao final da Segunda Guerra Mundial.